quarta-feira, maio 23, 2012

Assim Se Faz História


As competições profissionais nacionais findaram e com elas a pequena réstia de sanidade que mantinha todo o povo da bola minimamente controlado.

Agora vem a pré-época e com ela todo um tsunami especulativo que promete gerar expectativas histéricas no já de si mui impressionável adepto. É tempo de dar largas à imaginação, tirar fotografias parvas e imprimir títulos que, por qualquer critério remoto, ficarão para a História.

Com base nas experiências passadas, colocámos à disposição um pequeno inquérito na barra lateral para os nossos apaniguados. A ideia é tentar demonstrar que também conseguimos adivinhar coisas sem termos tantos tentáculos como o simpático polvo Paul. E também utilizar uma ferramenta do Blogger que tem sido marginalizada por nós, à laia de um Cebola qualquer desta vida.

São também experiências de defesos passados que queremos partilhar de forma sucinta convosco.
Em 30 de Junho de 2007, Sreten Sretenovic colocou a fasquia bem alta: iria mostrar valor. E “lá dentro”. Mas onde seria “lá dentro”? Dentro de sua casa? Dentro da sua cabeça? Dentro da loja do Benfica a vender camisolas do Bergessio em promoção? Uma incógnita que ainda hoje não foi resolvida. Estes jornalistas d’”A Bola” foram, aliás, as últimas pessoas deste mundo a ver o Sretenovic por mais de cinco minutos. E, obviamente, Sretenovic, esse motor de sonhos a gasóleo, não poderia mostrar valor em tão pouco tempo. Nem valor nem outra coisa qualquer.
Mais modesto, Valeri assumiu em Julho de 2009 que o máximo que almejava por terras lusas era apanhar uma valente carraspana de caixão à cova. O ar tresloucado que aparenta empresta total credibilidade à sua intenção. Também admitiu que sabia dizer uma palavra concreta em português, mas, lamentavelmente, foi logo uma palavra impronunciável no Dragão nessa temporada. Pedro Emanuel e o sorridente prof. Jesualdo, como tipos porreiros, começaram logo a pagar rodadas à vez e a cantar “e se o Valeri quer ser cá da malta, tem que beber esse copo até ao fim” e blá-blá-blá. A bebedeira foi enorme. Há quem diga que já ninguém sabia distinguir o Valeri do Prediger, tal o encharcanço, mas isso é exagero: ninguém conseguia dizer quem era quem mesmo no estado sóbrio.
Em Maio de 2010, era Paulo Sérgio a prometer que não iria ficar em 2º lugar. Eis, finalmente, uma profecia que se cumpriu: ele ficou em 3º. Quer dizer, ele não, que entretanto foi tourear para outros lados, ainda o 3º lugar era uma miragem, mas a equipa que orientaria durante sensivelmente meia-temporada. Não satisfeito, Paulo Sérgio, com a coragem que o caracteriza, avançou que “não viria para encurtar distâncias” – e, de facto, não encurtou, como atestam os 36 pontos finais de atraso para o campeão. E para completar o ramalhete, na mesma frase põe uma vírgula e ameaça “[venho] disputar o título”. O que também é verdade – eu próprio, em amenas tertúlias, disputo títulos amiúde com os meus confrades, seja do maior devorador oficioso de tremoços, seja da bisca lambida. Ou seja, Paulo Sérgio disputou um título, não de futebol, mas, sei lá, do forcado que percebe mais de bola do concelho de Lisboa ou qualquer coisa do género. Portanto, eis um exemplo de como até capas inicialmente tidas como absurdas poderão vir a concretizar-se. Mesmo na silly season.

sexta-feira, maio 11, 2012

Voo de Ícaro


Ricardo Sousa. Houve um tempo em que parecia que os anjos da fortuna lhe tinham batido à porta. Regalou-nos com aquele jeito especial de bater livres. Surpreendeu-nos com aquela marotice original de bater na mulher. Porém, os atrasos insuportáveis na sua afirmação comprometeram o plano. A sua carreira acabou por bater de frente contra um muro de adversidades. Nunca mais recuperou. Era batida a mais. Ricardo acabou por bater ele próprio no fundo. Mas esteve nele, por breves instantes, toda a esperança de uma nação na sua demanda pelo novo “Nº 10”. Um pequeno Maradona à escala lusa. Um Rui Costa menos choramingas. Um Deco mesmo português. Porque o povo gosta destes senhores altivos do meio-campo ofensivo que definem os jogos com a sua indolência, os tais que se permitem alhear por largos minutos dos jogos para depois aparecerem num livre, num passe, numa cotovelada que nunca poderia ser sancionada pelo árbitro. Porque não é justo. Não é, Aimar? O herói não pode ser vilão, senão a história não é boa porque não tem heróis. E tem de haver uma moral. Senão os meninos ficam confusos, choram e depois ninguém se quer levantar da cama para os fazer calar.
Pois é, pensou-se que o Ricardo Sousa podia ser este novo herói, mas nicles.

Quando falamos em nº10 que desapareceram pelas veredas ínvias do deslumbramento, também nos lembramos de Rui Baião. Rui Baião foi, para quem não sabe, a grande promessa das camadas jovens benfiquistas no doloroso período pós-Maniche. Ele e o Pepa, com o Cândido Costa à espreita. O Toy veio depois. Ele e a Sónia Brazão com mais uns travestis. Esperem, era só mesmo o Toy. Estava a confundir o Benfica com um programa de entretenimento para as massas, como é possível? Bom, Rui Baião não fez nada de especial pelas bandas da Luz e nem sequer mereceu as parangonas prematuras de colossos na apreciação de jogadores, por exemplo d’“A Bola” – que chegou a jurar que Makukula era a estátua do Eusébio com vida –, o que, desde logo, lhe augurou dificuldades que efectivamente se viriam a confirmar. Ainda assim, Rui Baião tinha a pose e a mentalidade petulante que eram necessárias para um óptimo nº10. Faltou-lhe qualquer coisa para explodir. Quem sabe, um je ne sais quoi, que é como os franceses dizem “jeito”.

Pode parecer estranho, mas o ponto alto da carreira de Rui Baião aconteceu mesmo antes desta começar. Ou seja, Baião ainda era formalmente um júnior. Está agora a fazer 14 anos. Maio de 1998. Foi tipo um Maio de 68, mas 30 anos depois: a euforia da Expo, a antecipação de um Campeonato do Mundo no qual não estaríamos presentes, os últimos dias do escudo enquanto moeda não irrevogavelmente indexada ao euro, quando tudo o que conhecíamos de séries nacionais de adolescentes era os “Riscos”. Enfim, tempos moderadamente agitados.
Foi neste contexto que os Iron Maiden lançaram o seu 11º álbum de originais, apropriadamente intitulado “Virtual XI”, embarcaram na sua DCLXVIª tournée e visitaram Portugal. A grande inovação desta tournée (“inovação” e “Iron Maiden” são conceitos que, em conjunto, devem ser manuseados com extrema precaução) foi a apresentação de um equipamento de futebol Adidas desenhado por medida para os Iron Maiden; um fatiota bem catita por sinal, atendendo à matriz de gostos em vigor naqueles últimos suspiros do séc. XX. Tinha a sua lógica: 11º álbum, “Virtual XI”, onze tipos equipados, uma equipa de futebol. E então, em Portugal, os Maiden seleccionaram o Benfica para um jogo-paródia, um evento muito mais social que desportivo, mas que foi levado a peito por Baião e que ainda hoje ocupa a maior fatia do seu coração.

Foi um verdadeiro tira-teimas entre o enfant terrible (que é como os franceses dizem “puto estúpido”, uma forma que demonstra todo o savoir-faire que os franceses têm para estas coisas – e “savoir-faire” seria, em bom português, “este tipo de cenas que se faz bem sem saber porquê”) Rui Baião e a besta Eddie. E o resultado foi vistoso. Uma batalha de titãs, cheia de golpes sujos, sangue e esgares algures entre o maléfico e o aparvalhado. O ambiente estava tão de cortar à faca que podia ter inspirado mais um épico dos Maiden, para colocar no final do alinhamento do próximo álbum, tipo “Murders In The Stadium Of Light Morgue”. Baião envolveu-se num tête-à-tête com Eddie pelo domínio do meio-campo. A partida inteira num tu cá/tu lá bastante bravo. Ora saía um solo do mostrengo, ora saía uma finta curta do pequeno infante. Ao assistir a esta luta sem tréguas, o público nas bancadas manifestava-se, com headbangs ou sacudindo bandeiras rubras, sentindo os níveis de adrenalina a atingir o estado de ebulição. A besta hedionda contra o príncipe encantado. A técnica da força contra a força da técnica. Homens grandes contra grandes homens. A beira da estrada contra a Estrada da Beira. Nunca o futebol foi tão gótico nem o heavy-metal tão redondo.

Talvez esteja a exagerar; Baião começou no banco e o Eddie foi comprar roupa ao shopping e não jogou. Não houve armas brancas nem efeitos pirotécnicos. Não se viram tampouco instrumentos musicais, se exceptuarmos o teclado bocal do Mozer. E nem sequer foi um jogo muito bem disputado. Mas foi o resultado mais avultado do Benfica dos últimos 15 anos: 10-1. Deveria estar escrito algures que, de modo a manter a coerência com a simbologia do nº11, teria de haver 11 golos… e assim foi, depois de uma primeira parte equilibrada. O Benfica teve sorte. Dos Iron Maiden só jogou o Steve Harris, ele ainda por cima andava em baixo de forma e os roadies que os substituíram tinham demasiada bebida no buxo para correrem, mesmo que fosse para correr atrás do Shéu. Se o Bruce Dickinson estivesse lá, com certeza que as coisas teriam sido diferentes.

No final, para a posteridade, fica a mescla entre o bigode típico português e o heavy-metal britânico, entre as panças de tintol e as barrigas de gin, entre a guedelha experiente de Harris e o jovem cabelo à tigela de Baião. Baião que, sendo uma águia, voou na sua carreira como Ícaro: directo ao sol para cair no mar do anonimato.

sábado, maio 05, 2012

Requiem à União

Esta é a história de uma formosa moça chamada União,
que cresceu bela e segura enquanto lhe deram a mão.
Porém, seu fim revelar-se-ia trágico,
violentada e espancada num processo autofágico.

União, quem te desejou mal e porquê?

Quem terá sido o Paco Bandeira da tua jornada final?
Hoje é 1º de Maio e tu és um iogurte num Doce Pingo brutal,
um elefante numa caçada do Rei de Espanha,
um comentário acre do João Querido Manha.

Agora que o Sol se escondeu cobarde atrás das carregadas nuvens da memória,
quem outrora te viu altiva e cheia de esperança ficou para contar a história.
Pena é que não tenha sido tanta gente quanto isso,
no estádio só havia 2 gajos, uma esfregona e um macaco com bigode postiço.

Mas é para recordar os dias de glória que aqui estamos,
firmes e hirtos como o Reinaldo na pequena área.
E a sua falta de mobilidade? Que bela recordação!
Pelo menos tinhas o Dinda para te safar com o pé-canhão.

Ecoava seco o disparo do projéctil poderoso,
o castelo da Cidade do Lis olhava orgulhoso,
enquanto Fua sacava rolhas nos extremos do relvado,
e o Mário Artur tinha um olho para cada lado.

Sim Mário, não eras bonito!
...mas a União ainda tinha algum guito!
Pelo menos o suficiente para construir uma sociedade das Nações,
com Argentinos, Brazucas, Palancas e até Alemões.

Olhava-se em frente para o IV Reich,
ao leme o Führer Michael Kimmel.
O boche que jogou no Bidoeirense um dia,
e até escreveu artigos sobre homofobia!

Mas Leiria não era cidade para maricas,
que o diga Tahar, o Khalej.
Bravo guerreiro Mouro de barbaridade desnecessária,
que tingia relvados de escarlate de grande-a-grande área!

Escarlate era também a cor do teu cartão preferido,
Tahar de cimitarra na mão apanhado desprevenido.
Se tu espalhavas terror pelo nosso Portugal,
com Gervino todos os dias eram Carnaval.

Ar de mosqueteiro, galã infalível sem eira nem beira.
Engravidaste a União com o teu charme de escudeiro.
Acabaste a pontapear couro na U.D.Caranguejeira,
mas eras leiriense de corpo inteiro.

Porém, União...de corpo e alma só tinhas um filho,
nascido do teu ventre, líder aguerrido.
Bilro, grande capitão! Quantas saudades deixas!
Pelo Lis conduziste a Nau com impecáveis madeixas.

Reza a lenda por aqui e ali,
que em noites de nevoeiro e completo silêncio,
ainda se escuta o roufenho Vítor Manuel a clamar por ti:
"Ó Bilro! Bilro! Vira o jogo, caralho!"
..."dá cá a bola, que eu não falho."
Resposta pronta de Bertolazzi,
rápido no gatilho!
nem por isso certeiro no remate,
mas tinha uma namorada boa como o milho.

Quem gostava de milho era o Bambo,
que se comportava como uma galinha.
corria de um lado para o outro,
mas não fazia nada que jeito tinha.

Quem tinha jeito era o Poejo,
pelo menos era o que se dizia.
não ficou na memória pelo futebol jogado,
mas sim porque gajos chamados "Estalagem" não há em todo o lado.

Havia ainda a cremalheira do Hugo,
eterna esperança do nosso futebol,
e o estóico keeper Miroslav Zidnjak,
que tantas vezes nos fez soltar um "LOL".

Mas se falamos de esperanças cristalizadas no tempo,
temos no veloz Porfírio um grande exemplo.
Em '96 defendeste a honra das Quinas no Europeu.
e sempre foste o leiriense que mais prometeu.

De promessas porém,
está o inferno cheio, se bem me lembro.
Tamanho foi o desperdício de talento,
que andaste pelo 1º de Dezembro.

Quem nasceu em Dezembro foi o bravo Ayew,
grande amigo do Maxwell Konadu,
a quem convenceu a cortar as rastas,
para melhor agradar a Jesú.

Agora Kwame falha golos na baliza do Senhor,
e corre desenfreadamente para a linha do Juízo Final,
tudo porque um dia terá decepado as icónicas rastas,
para afastar os espíritos do Mal.

Quem não queria nada com Deus era Quinzinho,
segunda reencarnação de Bambo.
Trôpego e pouco eficaz,
muitos anos a virar frango.

De frangos percebia o Ádamo.
Ádamo ou então Adamô, visto que o homem era francês.
Personagem secundária, é verdade,
mas sempre o achei cómico, façam-me a vontade.

Mais tarde chegaram Duah e Paulo Vida,
que fizeram disparar o coração da União querida.
Dois impecáveis e codiciosos cruzados,
goleadores de créditos firmados.

Leiria era já uma colónia ganesa.
Duah, Edusei, Ahinful e quejandos,
eram entrada, prato principal e sobremesa!

Mas o melhor fica sempre para o fim,
e depois de uma opípara refeição,
nada melhor que um digestivo para nos aquecer o coração:

Nii Lamptey, estrela internacional!
O Pelé ganês, o fenómeno que sairia no jornal!
Luzes, câmara, acção!
...parece que a película queimou, mas fica a intenção.

Petar Krpan, Nosferatu dos balcãs! Goleador de papel!
Em 72 jogos pela União, por 10 vezes molhaste o pincel.
Apesar de precisares de 650 minutos para marcar um golo,
és recordado com nostalgia por pareceres um ovo cozido com pés de tijolo.

Ano da Graça de 2001, arriva Baltemar Brito e seu treinador principal,
e com eles nasce no esqueleto leiriense uma espinha dorsal.
Futuro Campeão Nacional, Europeu e Mundial!
Hossanas a Derlei, Nuno Valente, Maciel e ao resto do pessoal!

Porém tudo o que é bom acaba depressa,
Baltemar cedo parte para Norte, levando consigo seu treinador principal, homessa...

Doce recompensa, União! Deixaram-nos o Aguiar!
Arma de destruição maciça, com ele podemos conquistar o planeta.
Tíbia, perónio, fémur? Não há barreiras que detenham o tanque!
No 11 adversário não há quem não manque!

União, moça orgulhosa, de queixo levantado!
Ao som do violão de Hélton dança Douala,
Edson chuta de longe e Hugo Almeida cabeceia ao lado,
João Paulo distribui porrada, pois Aguiar já não mora cá.

Otacílio quer a Taça dos Nomes Invulgares,
mas nem lhe chega a pôr a mão - esta é de Torrão.
Geufer berra ao longe: "Pô, também quero ser campeão!"
Fábio Felício sorri de soslaio e cospe para o chão.

Não desmoralizes, União! Ele dribla em círculos, tropeça sobre a bola...
Eis que chega Ivanildo, o esquerdino genial!
...que não vê a desmarcação de Slusarski,
mas tem um ar simpático, ninguém lhe leva a mal.

Lembram-se do Gana e seus boys?
Pois é a vez do Burkina Faso trazer os seus toys.
Ele é Tall, é Mamadou,
veio igualmente um Saïdou.

O Saïdou quantas sílabas tinha?
Eu conto seis, e sei ao que vinha.
Seu nome era Panandétiguiri e sete consoantes ao vento soprava.
Vogais eram sete também, número perfeito jurava.

Por esta altura era de magia que viviam os 4 adeptos da União,
Pois lá na frente pontificavam Cássio e Carlão,
com o Cowboy zambiano Rainford Kalaba,
apontando com mestria de pistola na mão.

Reserva-se um verso para um sucedâneo,
material contrafeito de feira alguma,
Zahovaiko queria ser Zlatko mas nem sequer era conterrâneo,
tal como Pluma nunca será Puma.

Keita, esse, foge com 6,000 batatas numa mala,
qual concurso do António Sala,
ah,espera! Afinal já não gamou nada,
a personagem nem sequer tinha vindo equipada!

Sem bolsos nas calças,
sem carteira no bolso que afinal não tinha.
Mas então em que é que ficamos?
Só sei que em '99 jogou cá o Pinha.

Batendo recordes jogando só com oito,
levando quatro secos do Feirense sem molhar o biscoito,
Com menos três jogadores em campo também se faz magia,
mais vale só, do que com má companhia.

Assim se fecha o livro desta estimada donzela,
União, foste açúcar em pó e foste canela.
Já não há graveto para sobremesa,
Até sempre, que a SAD está tesa.

sábado, abril 07, 2012

Afinal quem é o Major?

Desde a minha tenra infância que sempre que ouvi falar em Major, estavam a referir-se a este senhor:



eh pá, que grande momento televisivo este..!
Mas afinal, o Major é outro.
Quem é que nunca ouviu falar do Major, que era o "maior" do Maia nos anos 90? Pois é, 12 épocas seguidas no Maia. Deve ser recorde do clube.
Um pêndulo no meio campo, como hoje já nao há.
Sempre titular, mais de 30 jogos por época e sempre muitos golos.
Com tantas épocas no Maia só podia ter um curriculum de companheiros inesquecível: Phil Walker , Miguel Barros, Bock, o inolvidável Parfait, Moreira de Sá, Rogério Matias, Fernando Aguiar, Lim ou mesmo Zacarias! Que balneários devem ter sido.




Pois é, mas como tudo tem um fim , Major saiu do Maia em 2003, com 33 anos. Os Dragoes de Sandim foi a paragem seguinte, Trofense, Rebordosa, Fão e até o Feignies de França! Major à procura de ser "El Major".
Em 2009, ja com 38 anos, poder-se-ia pensar que Major iria pendurar as botas. Mas qual quê?! Pendurar nada!! Alpendorada tudo! 2 épocas nesta equipa à beira rio.
E ainda hoje, Major joga, com 40 anos! sim, 40! No Santo Eugénio, equipa de futsal. Ah pois é, com Major nao ha fim
Afinal quem é o maior? O MAJOR!



P.S. Cromos da Bola irá ainda investigar se Major é também relacionado com a Majora... a ver vamos

domingo, abril 01, 2012

Quatro Quartos

“Isto está mau, está…”. Quantas vezes nós já ouvimos este queixume?
Tudo é relativo.
Está mau?
Não, ESTA é que é a ocasião certa para dizer “está mau”:

Estávamos em 10 de Abril de 1983, jornada 25 do campeonato. Dilúvio de proporções bíblicas no quintal de Vidal Pinheiro. A casa do Salgueiros. Sem relva. Sem cobertura. Sem bancadas. Apenas um mar de chapéus-de-chuva em redor dos muros cerceados com arame farpado ferrugento e uns prédios à ilharga. Aqui jogava-se futebol de primeira divisão, com abnegados profissionais meio-futebolistas, meio-comandos. O oponente: o fugaz Alcobaça, o Felgueiras dos anos 80 no que à divisão-mor concerne. Isto era o nosso futebol de primeira, a duas décadas de distância do Euro 2004. Onde mesmo as marcações do campo pareciam imaginárias, havia guarda-redes chamados “Barradas”, contusões e caneladas com fartura e onde discernir um golo ao longe assemelhava-se à árdua tarefa de encontrar um sapo num charco em forma de campo de futebol. 
Agora está mau? Pois sim. Quem lhes dera uns equipamentos tão janotas como os da Olympic em 1996. Era como tirar um saco de serapilheira ensopado de cima para vestir um prêt-à-porter parisiense. Quem lhes dera um Adelino Ribeiro Novo em 1991. Era quase como mudar-se de um T2 na Arrentela para um T3+1 na Lapa. 
Tudo neste filme de terror disfarçado de resumo de jogo de futebol assume proporções cataclísmicas, denota-se um esforço sobre-humano para resistir ao caos daquele jogo tornado batalha. Há um enorme suspense até descobrir quem vai perder uma perna no lamaçal ou quem irá rebolar pelas encostas contíguas ao campo até bater com a cornadura no muro cá em baixo. Até o comentário ao resumo é confuso e dessincronizado, admitindo logo ao início que “as condições eram muito más”.
Era assim em 1983. Parecia tudo tão diferente, mas afinal o FMI também por cá andava, tal como agora.

Podia dizer-se, “ah e tal, mas aposto que os grandes não engoliam esses grupos, mudavam logo um jogo desses para a Maia ou para Torres Novas ou para o Algarve e furtavam-se aos pelados”. Mas nem por isso.
Estávamos em 18 de Janeiro de 1987 e jogava-se os dezasseis-avos de final da Taça de Portugal. O recinto: Campo Engº Carlos Salema, em Marvila, Lisboa, casa do Oriental, o grande rival do Atlético para saber afinal quem é o 4º grande lisboeta. Uma caixa de fósforos na Azinhaga dos Alfinetes toda engalanada neste dia. Alegria e emoção numa tarde solarenga de Inverno, com bancadas, colinas, postes de iluminação, casotas abandonadas e varandas todas repletas, nem o Gabriel Alves resistiu ao encanto da Festa da Taça. O Oriental, embora mais habituado a derbies de grande fervor com o SL Olivais, Olivais e Moscavide e Sacavenense, militava na antiga II Divisão que então fazia cócegas à I Divisão e recebia o venerado Sporting de Peter Houtman, Oceano e Virgílio. Quase que havia tomba-gigantes. E também houve um grande tombo, mesmo em cheio no pó de Marvila. E não foi um artista qualquer. Foi Mozart, o génio da música a estatelar-se ali num espaço não marcado, raspando os joelhos na gravilha em busca da derradeira sinfonia do penalty. O árbitro não tinha bom ouvido nem bom olho. Apontou livre. Quim não se fez rogado e escreveu um pequeno hino ao futebol direito por linhas que não existiam, compondo assim um “minor hit” para a popular agremiação lisboeta. Que saiu de cabeça erguida – mas não muito, que aquelas vedações também não eram muito altas.

Pegando no Sporting e avançando mais um ano, é com prazer que assistimos à apresentação da equipa para a época 1988-89, o Verão de Jorge Gonçalves. Neste trabalho quase familiar de Miguel Prates, que passeia-se quase despercebido por balneários e em redor de vários homens em tronco nu, é feita uma descrição individualizada das famosas “unhas do leão”: o bigode convicto de Carlos Manuel, a timidez de Miguel, a natural surpresa de Rui Maside, o estilo mariachi de Rodolfo Rodriguez, a boa onda de Douglas e a ambição de Silas. Lamentavelmente, Eskilsson, que já tinha sido apresentado há algum tempo, atrasara-se. Mas ainda assim, todo o contexto é muito bom. Há calças às riscas, pólos inenarráveis e um desfilar de meias brancas sem paralelo; um parque automóvel composto por Nissans Datsun, Opéis Kadett e Renaults 5; a figura do “supervisor”; o bigodão sapiente do preparador-físico Roberto Portela; e, last but not least, Jorge Gonçalves himself a exortar o plantel a passar na secretaria para receber os seus contos de réis em atraso e a comunicar publicamente e in promptu a estratégia do clube em termos de gestão de tesouraria, tudo com uma frontalidade desarmante.

Também neste Verão, Aveiro voltava a respirar os ares de primeira. Silva Vieira faz de nosso cicerone na viagem ao mundo encantado do Beira-Mar 1988-89. Alinha os reforços e apresenta-os um-a-um. Vamos poupar-vos a detalhes; vejam vocês mesmos a autêntica passerelle de moda bem típica dos anos 80 em pleno Mário Duarte. Só vos avisamos que tem o Paquito, o Barradas que vimos ali em cima a enlamear-se pelo Alcobaça e um jovem Zé Ribeiro, entre outros exemplos de mau gosto estético francamente embaraçosos nos dias de hoje, dominados que estamos pela cartilha de “gel + tatuagens + mostrar as boxers por trás = muito cool”. Mas não tem o Abdel Ghany, o 1º egípcio a sair de casa, e logo um super-egípcio, segundo o presidente babado; nem o Bira/ Vira, um avançado que promete trocar os olhos aos defesas mais do que Silva Vieira troca as consoantes. Contas feitas, qualquer estilista que veja este vídeo pode ter pesadelos durante vários dias a fio.

segunda-feira, março 26, 2012

Donato Donato, com esse bigode tens olfato?

Pois é. Ultimamente, todos os dias um clube vem reclamar que está a ser prejudicado pelos árbitros.
Bla bla bla.. somos uns perseguidos... ai ai ai ai... isto é tudo uma aldrabice.
E os árbitros nao se podem defender?
Isso é que era... mostrar a casa, o sofá, a televisão, os móveis... e falar tranquilamente.
Pois é, mas se isso acontecesse não estaríamos a modernizar nem a inovar.
Já em 1994 acontecia!
Senao, vejam o vídeo abaixo. Em grande estilo, Donato e o seu bigode fazem frente à sua sala, a sua tv , e mesmo à camisa de Tavares.. tudo muito bem coordenado.
E o Sousa Martins a entrevistar jogadores no túnel à saída do jogo? Hoje em dia é impensável. É tudo organizado e delimitado.
Já nao ha reportagens como antigamente!!
fiquem pois com este pérola.. isto sim sao reportagens.

P.S. O jornalista da TVI desapareceu do mapa.. se calhar é mesmo porque nao tinha grande jeito

sábado, março 17, 2012

Straight Outta Picheleira

"Neno! Como te sentes?
Um bocado atrofiado!
Porquê?
Fui posto de lado!
E agora? Que é que vais fazer?
Talvez...

Talvez...
Yoooooooooooooo!"

Esta é a história de um cantor romântico e suas desventuras na grande área de luva calçada.
Um homem atrofiado, que foi posto de lado...e não estava habituado.

Porém, um líder nunca cai só.

Um líder cultiva seguidores, deixa admiradores para trás. E uma vez no chão, são muitas as mãos que se levantam em seu auxílio.

Com Rei D. Neno caído, cinco valorosos escudeiros oferecem a argúcia de suas lâminas e candura de suas almas:
D. Dimas I, Mohammed Al Faisal, Príncipe Oceano o Magnânime, Infante D. Hélder Cristóvão e Luís Figo, Arquiduque de Pastilhas.

E impecáveis, todos eles.
Unidos, prestam a devida homenagem ao seu mentor da forma mais digna e valorosa possível - através de uma canção.

Quais Boyz II Men da Picheleira, os 5 magníficos vestem a farda sensual do R&B dos anos 90 com a mesma galhardia que lhes era reconhecida no relvado:



Algumas impressões:

0:00 - Ei, olha um plano de uma árvore. Que saudades da TV Rural e do Eng. Sousa Veloso!
0:01 - ui, mas quem é que sai por trás da árvore? É um bosquímano disfarçado de manager-de-boy-band/empresário-de-jogador-de-futebol-de-divisões-secundárias-com-aspecto-ligeiramente-seboso-e-duvidoso-que-pode-ou-não-dar-ordens-a-um-grupo-de-jagunços-para-te-partirem-a-rótula-caso-não-lhe-pagues-o-que-deves?? Ah não, é o Faisal.
0:02 - ... e está cheio de energia.
0:03 - se repararem entre os 0:03 e os 0:06, o Faisal está a checkar os atributos da árvore de forma sensual. Tree Fetish anyone?
0:03 - É o Seal, é o Seal! Afinal esta música tem potencial para tornar-se num caso sério!
0:04 - ...ah não, é o Oceano "Não Sou Cruz Porque Ainda Não Sou Treinador Senão Já Teria Direito a Ser Cruz", exibindo com charme o seu combiné faux-formal directamente do armário do tal Seal, completo com jaqueta cor-de-diarreia. É pena. O Seal é mais fixe (e não vou entrar em comparações Marina Mota/ Heidi Klum).
0:05 - ...e também vem cheio de energia! Mas...ops...fugiu logo numa pirueta à R. Kelly. Woooo!!
0:06 - ah, foi para dar lugar ao Hélder e ao nariz do Dimas. Ao ver este vídeo finalmente percebo porque raio a Geração de Ouro nunca ganhou puto.
0:07 - Olha! Figo! Cá está ele driblando o estilo com seu imaculado ensemble de festa em trânsito para o T-Club, onde irá dançar largas horas ao som de Lisa Stansfield enquanto meneia a anca em movimento pendular e estala os dedos consoante o ritmo. Espectacular.
0:08 - agora tiraram todos os óculos em simultâneo. Isto não faz sentido. Esta cena só acontece em filmes de acção e videoclips foleiros. Ah, esquece....
0:08 - porque será que o Dimas está constantemente a olhar para o lado? Parece-me inseguro.
0:09 - ah! Faisal a assumir a liderança! É de mim ou o Dimas e o Figo parecem deslocados no meio disto tudo? Just sayin', y'all...
0:09 - por falar em "Dimas" e "deslocado", lembram-se do braço dele no SL Benfica 0 - FC Porto 5? Isso sim, foram 30 seg de televisão de qualidade. Ou se fores adepto do FCP, hora e meia.
0:10 - Faisal, não tapes o Hélder! Deixa-o brilhar. Que mania de dar nas vistas.
0:10 - e por falar em brilhar, o cabelo do Figo não fica nada a dever ao do Pedro Proença, ou mesmo ao Sol.
0:11 - Esta é a Boys Band mais descoordenada desde que o Michael J Fox fez um dueto com o Muhammad Ali.
0:12 - Oi? Será que o Dominguez também participou no vídeo? Porque será que está tudo a olhar para o chão?
0:12 - ...menos o Dimas, que agora está a espreitar na direcção da câmara. Pelos vistos não compreende o conceito de televisão, tal como não compreende o de estética, conclusão tirada pelo facto de provavelmente ter vestido um blazer da Fabio Lucci por cima do pijama.
0:13 - E agora o Oceano está a olhar para o Dimas, o Dimas está a olhar para o Figo, o Figo está a olhar para o Hélder, o Hélder está a olhar para o chão, o chão está a olhar para o Faisal e o Faisal está a olhar para o Figo...*suspiro*
0:13 - Este beat no background faz-me lembrar Kussondulola. "Quiribi, quiribi macaco! Macaco que é boá,que é boá! Filho do Homem negativo!"
0:14 - Concentra-te, Dimas! Eu vi esse sorrisinho dengoso para a assistente de realização. Bem boa que deve ser.
0:15 - não consigo deixar de pensar que isto seria mais divertido com o Paulo Madeira de permeio.
0:15 - Group hug!!
0:16 - há algo realmente incomodativo em ver 5 homens abraçados no meio de uma floresta.
0:17 - dispersar!!
0:18 - Dimas, eu disse "dispersar", e não "empurrar".

E o Neno? Continua atrofiado, porque foi posto de lado. E o que é que ele vai fazer?
Talvez ficar com o maxilar preso numa rede.

Yooooooooooooooo.

sábado, março 10, 2012

Boi Preto


A nostalgia tem destas coisas. Quem nunca sentiu saudades de um belo relato de futebol pela rádio, num domingo à tarde? E quem nunca se deleitou com os lindíssimos nomes dos jogadores de futebol que fervilhavam nos relvados e pelados portugueses lá nos idos de 80 e 90? Pois bem, nós estendemos a nossa admiração aos nomes de árbitros. E, inclusivamente, fazemos cromos de árbitros.
Naquela altura, antes das modernices das múltiplas cores do equipamento e dos aparelhos de comunicação com o “árbitro auxiliar” (parece que “fiscal-de-linha” ou “bandeirinha” se tornou insultuoso), o árbitro equipava invariavelmente de preto. A menos que houvesse em campo uma equipa tipo Académica, Tirsense, Caldas, etc. – aí, a cor da camisola era um branco sujo, acinzentado, incaracterístico. O preto é que lhes ficava a matar, com golas brancas protuberantes. Eram os saudosos tempos do “boi preto”. Das bancadas, um coro uníssono de vaias tratava todos por igual, qual manifestação democrática dos pós-25 de Abril. Não serás um “touro amarelo” nem um “búfalo vermelho”; não, amigo árbitro: eras um “boi preto”, de Norte a Sul do país, passando pelas ilhas; eras um “boi preto”, fosses pobre ou rico, corrupto ou não. Concomitantemente, escutavam-se silvos trazidos das arenas, assobios imitadores da tourada, como que reforçando a imagem do “boi preto” que acabou de apitar uma falta duvidosa contra a nossa equipa.
Os árbitros, contudo, procuravam diferenciar-se entre si, insatisfeitos por serem apenas mais um “boi preto” a pastar pelos campos de Portugal, várias vezes indefesos e deixados à mercê de impropérios e alvos de arremessos de objectos provenientes do peão. Não tinham muito por onde escolher, contudo. Eles eram marcadamente gordos, carecas, baixinhos e usavam bigode. Pareciam ser agentes da GNR com um hobby dominical. Apitavam, na sua globalidade, mal. A única forma de se distinguirem seria através de um nome invulgar.
Aí está, uma excelente forma de colmatar a ausência de individualidade que grassava na arbitragem portuguesa. Um nome esquisito. Se te chamasses João Aquilino Silva Mafamude, o teu nome enquanto árbitro seria, inquestionavelmente, Aquilino Mafamude. A tua associação regional também seria, preferencialmente, fora dos grandes centros, ou não estivesse em vigor a regra de que não podias apitar uma equipa da tua associação (embora pudesses apitar o jogo entre duas equipas da tua associação). Portalegre, Castelo Branco e Vila Real eram extremamente bem-vindas, por exemplo. Suspeitamos que havia mesmo quem desse nomes esquisitos aos filhos já antevendo a carreira de árbitro que se seguiria.
E eis o que todos esperam: sangue. Querem provas desta realidade que vos transmiti? Aqui vão elas, umas mais recentes, outras mais antigas; algumas mais célebres, outras caídas no esquecimento: Alder Dante (Santarém); Ezequiel Feijão (Setúbal); José Leirós (Porto); Sepa Santos (Lisboa); José Rufino (Faro); Fortunato Azevedo (Braga); Donato Ramos e Isidoro Rodrigues (Viseu); Veiga Trigo (Beja); João Simãozinho (Leiria); Luís Reforço (Setúbal); António Rola (Santarém); Juvenal Silvestre (Setúbal); Serafim Alvito (Portalegre?); José Silvano (Vila Real); Francisco Caroço (Setúbal?); Carlos Estriga (Santarém); Porém Luís (Leiria); José Guímaro (Coimbra) e o celebérrimo Carlos Calheiros (Viana do Castelo). 

E, sem querer entrar em pormenor pelo submundo dos árbitros assistentes, houve também o João Crujo, o António Pardal, o Manuel Burrica, o José Chilrito, o Carlos Vigário, o Manuel Quadrado, The Artist Usually Known As The Ferrari Of Setúbal, etc..
Depois ainda existiam os que se diferenciavam pelo aspecto, como Rosa Santos (Beja; o protótipo do árbitro clássico português), Mário Leal (Leiria; gordinho, quase quadrado, pouco veloz, fiava-se no golpe de vista), Miranda de Sousa (Porto; uma barba cerrada que provocava inveja ao mítico Fernando Chalana com 17 anos, semelhante à dos irmãos Calheiros) e Neves Fernandes (Braga; bigode acompanhado por uma risca de cabelo basculante que procurava ocultar a calvície galopante – imaginem Fernando Seara em 1995); e aqueles que, tendo um nome aparentemente normal, tornavam a sua arbitragem num inferno, como Martins dos Santos, do Porto, merecedor de um post só para si, tamanha a profusão de cartões que distribuiu. Mas, “make no mistake”: muitos dos árbitros acima citados também eram assustadores no plano técnico – apenas relegaram esses defeitos para segundo plano através do seu nome esdrúxulo ou da sua aparência peculiar.
Nos dias que correm, Carlos Xistra (Castelo Branco), Elmano Santos (Madeira), André Gralha (Santarém), Cosme Machado (Braga) e Olegário Benquerença (Leiria) prolongam a tradição. Mas a vulgaridade de Rui Silva (Vila Real), Rui Costa (Porto) e Hugo Miguel (Lisboa) augura um futuro pouco positivo aos ex-“bois pretos”. Enfim, ao menos subsiste a polémica em torno deles, da qual se alimentam os jornais e programas desportivos, bem como as cavaqueiras entre tertúlias de café à segunda-feira.
O que é feito destes sonantes nomes do passado? Quase nenhum deles assumiu a sua preferência clubística, mantendo-se fiéis ao Lusitano de Évora, Oriental e Aliados de Lordelo. Algumas excepções confirmadas: Vítor Pereira (um sportinguista caído em desgraça junto dos seus), Donato Ramos e António Rola (Benfica). Este Rola (que mereceu slogans emblemáticos por parte de alguns clubes – “abriu a caça à Rola”, exortava-se de Chaves) foi vereador em Rio Maior. José Leirós também abraçou a política em Matosinhos. José Silvano possuía uma vinha no Peso da Régua. José Guímaro e os seus “quinhentinhos” desapareceram lá para os lados de Condeixa-a-Nova. Veiga Trigo era o eterno sindicalista efervescente do Alentejo. Juvenal Silvestre foi observador de árbitros, uma profissão aliciante para muitos. Alder Dante é um comentador sobejamente conhecido. Muitos deles serão empresários, bancários, técnicos de seguros e algum deles deve trabalhar nalguma loja desportiva.
O grande espanto é a já mui afamada veia lírica de Isidoro Rodrigues: de árbitro a artista foi apenas um pequeno passo. Das sinfonias de apito passou às melodias de guitarra. Do amarelo injusto saltou para composições do calibre de “Memórias” (2003), gravado nos estúdios Produsom de Viseu, um álbum de 12 faixas merecedor de uma remistura, devidamente intitulada “Memórias Remix”. Em 2004, ressurgiu com “Laços de Amor”, para quem pensava que um ex-árbitro não sente. Em 2006, estava na calha o 3º álbum duma carreira discreta mas orgulhosa. Mas, provavelmente, Isidoro fez uma de Radiohead e distribuiu gratuitamente no seu MySpace os mp3’s, que eram avidamente pretendidos pela enorme legião de fãs que povoa a área entre Mortágua e Armamar. Contudo, Isidoro mantém o bigode e o nome artístico. Reconfortemo-nos, portanto.

domingo, março 04, 2012

Predador Sexual à Solta


Há casos e casos nos clássicos do futebol português, mas poucos terão sido tão escandalosos como o verificado no último SLB-FCP.
Referimo-nos, claro, à abordagem mais que explícita de Janko a Maxi Pereira, sob a anuência de Pedro Proença.
Este sim, um caso a sério. É um caso sério de voragem sexual, de apetites caninos por saciar, de voyeurismo puro. E sim, há ordenados em atraso. Mas não haverá também muito fetiche reprimido nos clubes de futebol? E agora, quem protege as vítimas de assédio sexual, se umas quantas cabeçadas não forem suficientes? Onde estás, sindicato?
Deixemos que as imagens vos ilustrem.

quinta-feira, março 01, 2012

Marito de Portugal


Marito tentou internacionalizar o seu estilo. A experiência não correu bem.
Sem nunca ter usado bigode, o pequenito Marito é, também ele, uma pérola de portugalidade. Assim como a sardinha se quer miudinha, os extremos portugueses queriam-se baixinhos e rápidos. E assim era Marito, moço reguila de estatura meã, nascido no interior tradicional português, a quem nem sequer faltavam os caracóis ou as faces rosadas pelo bom velho tinto da aldeia. Marito nunca conheceu outros caminhos que não os calcados junto às linhas laterais, sempre perto dos bandeirinhas e afoito a fugir aos foras-de-jogo. “Marito” e “extremo” eram conceitos redundantes e, ainda hoje, se algum mister disser “quero um Marito para abrir o jogo!”, todos compreenderão que está na altura de lançar o ratinho velocista que joga nas linhas para dentro de campo. Hoje em dia, é mais “transições ofensivas”, “explorar os espaços exteriores, buscando linhas de passe para o pivot” e “aproveitar a velocidade e a facilidade de rotação propiciada pelo baixo centro gravitacional do ala”. Mas Marito só sabia de “contra-ataque”, “bola no pé junto à linha”, “fazer cuecas aos defesas”, “manda-te para o chão assim que te tocarem!” e apenas via a linha de fundo; corria, corria, corria como se estivesse ainda no recreio, como um Forrest Gump no meio de calmeirões sem caneleiras, como um Tsubasa que demorava três episódios até passar com a bola no meio-campo e ver o adversário mais próximo aquém da linha do horizonte.
O percurso de Marito confunde-se assim com o trajecto do Portugal à beira-mar plantado: ambição moderada, orgulho na sua rotina, periférico, pequenino e remediado. Para o quadro ser perfeito, só faltava haver uma casa de fados, pão e vinho sobre a mesa com o Marito sentado num banco, a coçar os ouvidos com a unha do dedo mindinho. O fado de Portugal foi o fado de Marito. Se perguntassem a Marito como ia a vida, ele seria capaz de responder “pois, cá vamos indo…”, com aquela congénita resignação de quem sabe que as coisas não estão mal sem estarem espectaculares e com aquela aversão de mostrar que se é bom demais, não vá gerar atritos e estragar o que para já… “vai indo” – um dia, quem sabe, fintaria toda a equipa contrária e marcaria um golo à Maradona, mas para já o mister só quer é ganhar um canto ou outro e atingir a manutenção ponto a ponto. E ele cumpria.
Andou por aí, a incutir velocidade por equipas de meio/fundo da tabela que nunca tiveram grandes soluções, fez mossa, deu alegrias, mas não conseguiu subir mais um patamar. E, quando subiu, voltou com saudades para onde tinha saído, satisfeito e aliviado por voltar a ser um peixe grande num lago pequeno – se é que “grande” e “Marito” podem ser conjugados na mesma frase. O que ele gostava mesmo era de dar cartas no seu minúsculo quintal, desenrascando como podia. Cresceu, enquanto jogador, na Académica. Teve oportunidade no FC Porto. Mas não aguentou a pressão e saiu para a Amadora – o seu único clube abaixo do Mondego e de perfil demasiado urbano para a sua ideologia beirã. Subiu de forma em Famalicão e Chaves, dois favoritos da turba cromística dos anos 90, onde desempenhou o papel de abre-latas de defesas compactas e trauliteiras em relvados enlameados, despertando uma certa cobiça por palcos mais cimeiros, quiçá  uma Skydome Cup qualquer como prémio, que nunca se concretizou. Ainda teve tempo de correr em Viseu, Coimbra (novamente), Lamego e Gaia, até finalizar ali pertinho de casa, o lar doce lar tão humilde, em Mangualde.
O lóbi pró-Marito e o exagero da sua retórica.
Havia muito por onde pegar em termos de extremos microscópicos, caso os conseguíssemos agarrar: Rebelo (seu irmão de sangue, com o qual diabolizou Famalicão com a sua velocidade anã), Fua (a gazua angolana), Martelinho (diminutivo até no nome), Dominguez (a versão sofisticada à Backstreet Boys do lusitanismo clássico de Marito), Bakero (que talvez fosse alto e fátuo demais para haver comparação) ou, para não irmos mais longe, mesmo Rui Barros, mas Rui Barros, embora revelasse a mesma capacidade de tornar um equipamento XS em XL assim que o vestia, nem sequer era bem um extremo. Todos eles podiam ser sete magníficos anões de uma Branca de Neve qualquer. Mas, de entre todos eles, só Marito encorpava genuinamente a alma portuguesa naquele palmo e meio de gente.

domingo, fevereiro 26, 2012

Canela & Açúcar Em Pó


A grande questão que paira actualmente sobre os Belenenses confunde-se com o anúncio da Zon: podemos ver futebol de primeira à mesma? Podemos, mas não é a mesma coisa.
Valha a verdade, até já o futebol de segunda se afigura suficientemente árduo para os azuis. Portanto, reajustemo-nos às novas circunstâncias e tenhamos calma; a mesma calma que o Estádio do Restelo emana das suas bancadas de cimento nu e frio, com o Tejo melancólico ao fundo a amparar os braços erguidos ao céu da Ponte e o Cristo-Rei a mandar um abraço lá da outra banda, soprando uma brisa fresca que transporta o doce aroma da canela e do açúcar em pó dos pastéis de nata acabados de cozer. Os Belenenses voltarão um dia a merecer uma fotografia que honre a família azul, como esta moldura impregnada de saudade.

Esta fotografia poderia ter sido tirada num dia de jogo, como se pode constatar pelo costumeiro frémito da maralha que enchia as bancadas do Restelo. Aqueles três tipos nos camarotes lá atrás eram mesmo danados para a festa. A equipa do seu coração equipava-se com o equipamento italiano do Mundial 90 – não há como disfarçar, nas golas está a bandeira de Itália; se o aproveitar destas sobras foi um tributo ou uma necessidade, não sabemos; mas lá que a Cruz de Cristo foi ali cerzida à pressão, lá isso foi. E há muito mais matéria por onde pegar, a saber:
- a omnipresença de Nito;
- o aspecto suspeito de Kobla;
- a finesse de Edmundo;
- the mood of the least happy of all Bulgarian players, sad Kov.
Mas nós vamos ignorar estes casos e avançar em direcção a outros, segundo recomendação do gabinete jurídico do Belenenses, instituição maior dentro da instituição-mãe e que já marcou quase tantos golos importantes como o Matateu ou o Chico Faria. Perante este parecer de tão reputado gabinete, aquiescemos sem reservas, mesmo contando com o apoio incondicional de António Fiúza para o que desse e viesse.
Mihaylov foi o Bejamin Button do futebol português. Foi adquirindo capacidades invulgares de rejuvenescimento com o passar do tempo. Nasceu sem próstata e com cataratas. Aos 15 anos apanhou uma crise ciática que quase interrompeu a carreira de jogador de dominó profissional. Aos 20 anos fez o seu primeiro jogo de futebol… à baliza, claro, que era coxo e precisava do poste para se agarrar. Aos 24 anos tornara-se num guarda-redes que pedia meças ao pico de forma do Best, embora ainda fosse incontinente e precisasse mais de Lindor anatómico do que de luvas. Aos 27 anos estava nos Belenenses, piscando o lho à selecção e dispensando o uso de medicamentos para corrigir a disfunção eréctil. Aos 31 anos, tinha cabelo com fartura e namoradas sem precisar de pagar-lhes uns quantos whiskeys, dando show nos EUA pela selecção. Nessa altura, Belém já era uma memória distante e Mihaylov um homem cada vez mais vigoroso. Depois aos 36, Mihaylov acabou o ensino secundário, integrou um casting para os "репички с оцет" (os “Morangos com Açúcar” da Bulgária) e nunca mais se soube dele. Pode estar a acompanhar a digressão do Justin Bieber, por exemplo.

Chalana dispensa apresentações. Ele próprio, reconheçamos, também não liga muito à apresentação. Contudo, o seu estilo ultra-blasé, a roçar o desmazelo puro, marcou pontos na década dourada dos torresmos, os anos 80. Com a chegada da proto-sofisticação dos anos 90, Chalana perdeu espaço e ganhou rugas, descendo a escada do sucesso aos trambolhões. Belém seria dos seus últimos estertores e daqui não leva boas recordações. Boas recordações leva de outros momentos, como nesta tertúlia entre “bigotis insignae”: Borges, o próprio Chalana e um tipo mascarado de Estaline com uns óculos supostamente engraçados.
Regressando a temas mais capilares, registamos o denodo belenense para emular artistas pop portugueses seus contemporâneos. Justino e Morato, em concreto, competiam em surdina para ser o fã nº1 de Marco Paulo (o cantor e não o actual treinador azul). Justino até talvez estivesse um passo adiante, como provou no cômputo das audições efectuadas, mas como não teve direito a cromo por ser eterno suplente, acabou por ser Morato a figurar na cover de um álbum apreendido numa feira em Ranholas.

Já Paulo Monteiro era um jogador polivalente que desenvolveu grande parte da sua carreira no Restelo e dali só saiu para ter prazer em representar o terceiro clube de outra cidade. Ele demonstrou de forma cabal a sua versatilidade ao inspirar um sem número de comparações graças à sua pomposa cabeleira.
Seria mais parecido com o seu primo Nel Monteiro?

Ou com José Malhoa (o pai da Ana e não o pintor naturalista)?

Ou seria com o José Cid?

Bom, o certo é que o rei vai nu e os Belenenses têm uma missão dura pela frente. E por muito inspiradores que sejam os cromos deste plantel, que não os levem muito à letra: é que esta equipa ficou em penúltimo no campeonato 1990/91.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

O Debute


Mais um pedacinho de história sacado sem permissão do You Tube. A data: tarde de 2 de Junho de 1988, 37ª e penúltima jornada da 1ª aventura de 20 clubes na Ia Liga. O local: Estádio Engº Vidal Pinheiro, santuário mítico do futebol europeu infelizmente desaparecido. O árbitro: Ezequiel Feijão, um nome bem “à árbitro”. As equipas: o Sport Comércio e Salgueiros, ainda sem patrocínio Ferbar, nem equipamento Hummel ou Adidas, nem tão pouco um ex-jugoslavo para amostra, alinhou com: El-Rei D. Madureira I; Carlos Brito (sim, esse mesmo), El-Rei D. Madureira II, Álvaro Maciel (histórico), Moreira (depois José Manuel) e Ferreirinha; Oliveira (brasileiro), José Luís (já teve direito a cromo e foi substituído neste jogo por Luís Filipe) e João (passaria tempos felizes em Felgueiras); Sr. Santos Cardoso e Jorginho. O Sporting Clube de Portugal jogou com: Damas; João Luís, Duílio (ainda com bigode), Morato e Mário Jorge; Virgílio (outro bigode; depois Litos), Oceano (talvez tivesse bigode) e Vítor Santos; Silvinho, Paulinho Cascavel (depois rendido por esse pré-Wolfswinkel de nome Peter Houtman) e Mr. Tony Sealy.

O resultado: 2-4. O Salgueiros desceria de divisão para voltar dois anos depois. O Sporting ficaria pelo 4º lugar, ultrapassado pelo Belenenses, naquele que seria o último pódio dos azuis de Belém. E porquê este resumo figurar aqui neste blogue? Pois bem, poderia ser pelo curioso de ver um jogo à tarde, num estádio bem composto, sem cadeiras e com peão; por ver o Salgueiros a disputar futebol de primeira; por ver o povo de Paranhos abespinhado contra a decisão do juiz da partida, sacudindo as precárias vedações de forma intimidatória para sublinhar a sua contestação; por ver um golo de Tony Sealy ou por vislumbrar de relance o estilo europop de Peter Houtman. Mas não foi por isso.

É que foi aqui, em Vidal Pinheiro e neste preciso jogo, que uma lenda do futebol luso do final dos anos 80 se deu a conhecer ao público: saboreiem, caros telespectadores leitores, o tempo que medeia entre 1:00 e 1:09 deste vídeo – são os breves, mas intensos, 10 segundos de HANS VIMMO ESKILSSON a debutar para os aficionados de Portugal! A antecipação foi tal que Eskilsson não pôde esperar pelo final da época e foi mesmo ali, ao intervalo de um jogo em casa alheia, que Eskilsson subiu ao relvado pela primeira vez. Acompanhado por essa grande influência de Vale e Azevedo que foi Jorge Gonçalves (do qual o arisco benfiquista apenas não absorveu a teoria do farto bigode) e de um carismático leão de peluche, Eskilsson escreveu aqui, provavelmente, a página mais dourada de toda a sua permanência em Portugal – sim, porque aqui foram só aplausos e expectativas, entre comentários do género "com aquele tamanho todo, só pode ser bom", "da Suécia só vem material de qualidade", "o glam-metal está para durar, meus caros amigos! Hanoi Rocks!" e "tomara que ele marque tantos golos como o Joey Tempest polvilha maquilhagem cor-de-rosa nas trombas"; depois, com a bola a rolar e a "final countdown" a escorrer rapidamente, nada mais seria igual.

Com este vídeo, sentimo-nos todos um pouco como José Hermano Saraiva: podemos dizer, “foi aqui, precisamente aqui, que nasceu uma estrela da qual 25 anos depois ainda se falava por essas bancadas frias de Portugal de lés-a-lés: seu nome era Hans Vimmo Eskilsson. E o povo, o grande e sábio povo português, sabe reconhecer uma grande estrela quando lhe aparece uma pela frente.”
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